“(...)aos poucos, desqualifica-se a relação interpessoal no campo afetivo. Relação, cujo nível de intimidade exige o olho no olho, o toque físico, o diálogo e demais sensações e sentimentos da natureza humana que necessitam da presença física para se manifestarem livremente.”“(...)Situação em que o hábito com o tempo torna-se vício, e o vício, o combustível da crise de relação que cedo ou tarde eclodirá.”por Flávio Bastos - flaviolgb@terra.com.br
Com o surgimento dos computadores, celulares e da internet como forma de agilizar a comunicação, a informação e aproximar as pessoas através do contato virtual, o homem moderno ganhou e ao mesmo tempo perdeu. Ganhou em conforto e qualidade tecnológica, mas perdeu qualidade nas relações interpessoais de âmbito afetivo. No tempo de nossos avós, a internet era uma palavra desconhecida porque não existia. As relações humanas se estabeleciam, basicamente, na presença física. Exigência indispensável nas relações afetivas que envolviam família, amizade e namoro.
Em situação de distância física por motivo de viagem, separação ou morte, o pensamento e a memória tornavam-se instrumentos da saudade de quem partia ou de quem ficava. Lembranças eram guardadas no pensamento, no coração ou em fotografias à base de papel, que com o passar do tempo, tornavam-se desbotadas.
Os e-mails ou torpedos de hoje eram cartas de papel enviadas pelo correio ao destinatário. Mensagens cerimoniosas que geralmente iniciavam com "prezado fulano de tal" ou "querida (o) ciclano de tal", quando existia intimidade entre remetente e destinatário.
Muitos relacionamentos amorosos, inclusive casamentos, sobreviveram à base de cartas ou de eventuais ligações telefônicas que eram complicadas no sentido de se conseguir linha para estabelecer o contato. Quando chovia, então, o contato tornava-se praticamente impossível.
Nas últimas décadas, o avanço tecnológico das comunicações, trouxe consigo a facilidade nas relações interpessoais, tanto num nível afetivo, quanto em níveis profissionais e de estudos, ou seja, a presença física deixou de ser cem por cento indispensável nas relações de trabalho, família, amor, sexo e estudo. Hoje, consegue-se tudo isso de uma forma mais ágil, econômica e sem sair de casa... ou da frente do computador.
Atualmente, a "febre" da internet atinge um impressionante número de pessoas no Brasil. Com a febre, outros sintomas tornam-se perceptíveis como o impulso e até a compulsão (vício) relacionados à dependência virtual.
Desta forma, aos poucos, desqualifica-se a relação interpessoal no campo afetivo. Relação, cujo nível de intimidade exige o olho no olho, o toque físico, o diálogo e demais sensações e sentimentos da natureza humana que necessitam da presença física para se manifestarem livremente.
O distanciamento físico em detrimento da "companhia" virtual tem chamado a atenção de especialistas pelo alto índice de crises conjugais e separação de casais que o moderno fenômeno provoca em razão da perda de valores e de qualidade na relação afetiva.
Esse fenômeno social, portanto, é uma realidade que está presente no dia-a-dia dos consultórios de psicoterapia. Situação em que o hábito com o tempo torna-se vício, e o vício, o combustível da crise de relação que cedo ou tarde eclodirá.
Há pouco tempo atrás, atendi um casal de meia-idade, na faixa dos quarenta anos, com 22 anos de casamento e uma filha adolescente. A iniciativa de procurar auxílio na Psicoterapia Interdimensional foi dela, pois o marido, aparentemente, mostrava-se indiferente à situação estabelecida entre ambos.
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