Agora com o texto:
BBB 13 por Luis Fernando Veríssimo
11/01/2013
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil
(BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos
chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior
na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para
qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Não fui eu... |
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays,
lésbicas, heteros… todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados
por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que
quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou
heterossexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu
um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem
variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e
escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de
Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail
que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do
humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de
perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e
princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um
outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e
meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de
heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho
árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da
saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros,
lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam
horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre
são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de
comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso
todo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças
complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e
digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs,
voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes
e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo,
pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como
mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo,
não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores,
nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o
incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como
valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer,
beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do
programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum
psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a “entender o comportamento
humano”. Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani
da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas
ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo
e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir:
oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse
dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde
de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou
comprar mais de 5.000 computadores).
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e
indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de
assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda
ou qualquer outra coisa…, ir ao cinema…. , estudar… , ouvir boa música…, cuidar
das flores e jardins… , telefonar para um amigo… ,·visitar os avós… , pescar…,
brincar com as crianças… , namorar… ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é
ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos
valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.
Por Luis Fernando Veríssimo
*****
"Mas o Luiz Fernando original afirma:
Não fui eu que escrevi.
Não poderia escrever nada sobre o “Big Brother Brasil”, a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam.",
em publicação no recanto das Letras.
Ao ler o texto recebido por e-mail "senti" que não seria do Luiz Fernando que conheci na MPM Propaganda. Pesquisei e encontrei essa postagem desmentindo a autoria imposta a ele. Luiz também diz que não tem twitter.
Foto da web
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