28/05/2011 | N° 12265
CAO HERING
· Palestra
Boa noite. Antes de começar essa minha palestra pra vocês, eu queria, sabe?, fazer um agradecimento especial pra professora Heloisa Ramo, por causa do livro que ela publicou pelo Méqui, ou seja, um livro que me livrou das concordância dos esse, que livrou o povo das concordância dos esse e me deixou muito feliz e que vai deixar nosso povo mais feliz e vai deixar muita gente feliz. Gente, nós precisamos acabar com essa mania de esse em tudo. Olhe, se eu tivesse concordado com tudo na vida eu não tava hoje aqui falando pra vocês como eu tô falando; eu não teria governado esse país como eu governei, eu não teria tirado os pobre da miséria como eu tirei, eu não teria inventado todas as bolsa como eu inventei, eu não teria botado o nome desse país no mundo onde eu botei, ou seja, a professora Heloisa deixou todos os pobre analfabeto desse país mais satisfeito porque o povo agora não precisa mais usar os esse. Nunca antes na história desse país o povo ficou tão à vontade pra usar a sua voz.
Se minha mãe nasceu analfabeta, se eu nasci analfabeto e um monte de gente em Garanhuns e nesse país nasceu analfabeta, sabe?, eu hoje tô aqui contente por isso, porque nós não precisamos mais falar como as zelite. Aliás, eu queria dizer uma coisa pra vocês sobre meu irmão, o Vavá, quando ele disse “arruma dois pau pra eu?”. Lembra? Gente, não é uma coisa linda alguém agora poder falar com essa liberdade? Na época a imprensa golpista, tucana, de direita, caiu de pau em nós, não só por causa do dinheiro que ele pediu, mas porque faltava um esse! Por que agora eles não vem pro teteatéte? É porque agora acabou esse negócio de botar esse em tudo.
O uso dos esse é mais uma herança maldita deixada nesse país. A gente quando ocupa um lugar no mundo como eu ocupei, a gente não precisa usar os esses porque tem um cara escondidinho lá numa cabine, sabe?, que bota tudo que a gente diz na nossa língua na língua deles. Ou seja, aí se tem esse ou não tem esse, eles dão um jeito. E por que eles não falam português? Tem que falar inglês? Eu sempre meti a cara em português mesmo. O Fernando Henrique é que só quer aparecer falando inglês e francês que nem precisa mais. Se eu chamo de “vikiliki” aquela turma que vazou segredo pra Deus e todo mundo e se eu chamo vocês – que tão me pagando duzentos pau pra tá aqui falando com vocês, conversando com vocês, dialogando com vocês –, se eu chamo vocês de zelite, vocês vão entender que eu tô é falando de um tipo de zelite boa.
Aliás, eu queria dizer uma coisa pra vocês: existe a zelite boa e a zelite que não presta. A zelite boa é essa de vocês que me convidaram pra tá aqui falando com vocês teteatéte e que são meus amigo e vocês sabem porquê. A zelite ruim é aquela que queria que esse país continuasse cheio de miserável, de pobre. Agora não tem mais miserável nem pobre nesse país. E tão falando em inflação? No fundo a inflação é uma coisa boa porque eu e o Meirelle ajudamos esse povo a comprar coisa que antes não comprava. Aí os preço sobe, gente, por causa da zelite ruim que aumenta tudo. Pra finalizar, eu queria dizer mais uma coisa pra vocês: eu sei que a Dilma, que eu fiz a mãe do povo (eu sou o pai), vai dá um jeito nisso até eu voltar com meu título de “Honoris Causas” – aqui eu preciso usar os esse porque é um diploma criado lá em Portugal que é um país que eu admiro por ter copiado nossa língua desde que o companheiro Pedro Vais de Caminha escreveu a primeira carta sobre nosso plantio lá pro presidente deles.
Agora vocês podem fazer as pergunta que quiser. Só não pode perguntar do mensalão, dos passaporte diplomático, da empresa do meu filho, do Celso Daniel, do MST, das Farc, do Cezar Batista, do Hugo Chave, do Zé Laia, do Fidéu, do Dirceu, das cueca do Genoino, do top-top do Marco Garcia, do Amadinejádi, do comércio c’a China, das birita, dos aloprado, da Saúde, das quebra dos sigilo bancário e do canteiro da Marisa. Brigado.
Vivemos na era da mediocridade |
Eu também repudio o artigo do deputado Luiz Alberto, intitulado “Não, não vivemos na era da mediocridade (A Tarde, 11/6), sobre o que escreveu, com muita propriedade, neste mesmo jornal, o poeta Ruy Espinheira Filho.
Vivemos, sim, na era da mediocridade: da mediocridade cultural e, principalmente, da mediocridade política. Basta-nos ver as manchetes diárias da política brasileira. Primeiro, o deputado que gosta tanto de falar das minorias, das cotas para negros — e somente para negros, claro está —, também deveria observar com mais atenção o que quis dizer o grande poeta, que também faz parte de uma minoria, de uma minoria de intelectuais, daqueles que ainda pensam e que pretendem tão somente difundir a cultura e a educação, coisa que parece, a maioria dos políticos lutam contra. Para estes, os que fomentam a ignorância, tudo o que não se reverte em benesse, é elitista. E assim vão propagando, ao invés de investirem na educação e na cultura de forma que todos tenham as mesmas oportunidades, e não dividi-los pela cor. Será que o senhor não acha vergonhoso a situação educacional em que se encontra o país? Somos menos do que o Zimbábue, do que o Chile, o Uruguai. Somos menos do que nós mesmos. Isto sim é racismo, preconceito, discriminação. Como bem disse o moçambicano Mia Couto,“eu não gosto de branco, nem de preto, eu gosto é do homem sem raça.”
Ruy Espinheira está corretíssimo, vivemos na era da mediocridade e da ignorância. E todos aqueles que não conseguem ver isso, é igualmente ignaro. Apenas não se convencem de que a democracia ainda permite que nos expressemos, mas sem grosserias nem essa pobre retórica.
Somente de uma coisa o nobre deputado está certo: “Qualquer idiota pode escrever qualquer idiotice.”
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